quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Temer, com conselho amigo, tenta emplacar maldades -

Depois de exonerar representantes da CUT e outros movimentos sociais do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, governo faz primeira reunião de "clube de amigos"

Escrito por: Isaías Dalle

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), conhecido como Conselhão, faz nesta segunda, 21, sua primeira reunião sob o governo Temer.
Sem a presença de representantes da CUT, do MST e de outros movimentos sociais que se opuseram à derrubada da presidenta eleita, todos exonerados do Conselho. Também foram exonerados integrantes como o ator Wagner Moura, o capitão Nascimento, que igualmente se opôs ao processo de impeachment, definido por ele como “golpe”.
O Conselhão foi criado em 2003 pelo governo Lula, como instrumento para fomentar o debate de ideias e o encaminhamento de propostas ao executivo federal. Desde seu início, teve composição plural, com empresários, acadêmicos, artistas e militantes sociais. Inclusive, com a presença de pessoas que não haviam votado em Lula. A função de conselheiro não é remunerada, cabendo ao governo apenas as despesas de transporte.
Só amigos
A nova composição reúne, quase integralmente, defensores das propostas do governo Temer, como diminuição do papel do Estado e austeridade fiscal. Ou, então, defensores do papel preponderante das organizações não-governamentais na condução de políticas sociais.
Notas dissonantes – ou talvez nem tanto – são os nomes de dirigentes da Força Sindical, UGT e Nova Central no atual Conselhão. Também dissonante, mas em outra chave, é o nome da pesquisadora Tania Bacelar, conhecida por suas posições progressistas.
Já emblemática é a presença de Benjamin Steinbruch, que defendeu em entrevista à TV, em 2014, que os trabalhadores não precisam de uma hora de almoço e que poderiam manejar máquinas e comer sanduíches ao mesmo tempo. Benjamin, criador de cavalos de corrida e empresário, falava naquele momento como presidente em exercício da Fiesp. Chama a atenção igualmente a presença de lideranças do setor farmacêutico e de medicina privada.
Os integrantes da CUT e de outros movimentos foram exonerados e souberam da decisão pelo Diário Oficial. Nem foi necessário usar os serviços do novo conselheiro Roberto Justus e seu indefectível "você está demitido". Para o presidente da Central, Vagner Freitas, que compunha o conselho a convite da presidenta Dilma, essa ação do governo Temer demonstra “que é um governo que não dialoga com a sociedade e monta um grupo de amigos para tentar ganhar uma aparência de legitimidade que na verdade não tem”.
Para o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, a atual composição do Conselho o tornará ineficaz, pois é justamente a diversidade de opiniões que pode encaminhar políticas novas.
Me ajudem com a reforma da Previdência?
Temer deixou claro, em fala na abertura da reunião desta segunda, que sua prioridade é implementar uma reforma da Previdência que retire direitos e aumente a dose de sacrifícios dos trabalhadores e trabalhadoras, e pediu ajuda aos conselheiros:
“Quero dizer também que esse ajuste fiscal só estará semicompleto com a Reforma da Previdência, cuja primeira proposta estamos finalizando e remeteremos ao Congresso Nacional antes do fim do ano. É uma reforma que gera muitas angústias, mas quero dizer que vamos conduzir o processo com muito diálogo”.

Pra que serve
No seu início, o Conselhão foi muito criticado pela imprensa e por parte do Congresso Nacional, que acusavam Lula de tentar, com sua criação, esvaziar as funções do Legislativo. Os fatos não confirmaram os temores.
Sem caráter deliberativo, o Conselhão pode apenas propor soluções. Inicialmente ligado ao Ministério do Planejamento e à Casa Civil, o CDES conseguiu alguns avanços concretos.
Entre eles, a criação de um Fórum Nacional da Previdência que, após meses de debate, com a participação de trabalhadores, empresários, representantes do governo e da academia, decidiu por não fazer uma reforma que retirasse direitos e que ainda subscreveu, por unanimidade, a vinculação do piso previdenciário ao salário mínimo.
Já Dilma, em seu primeiro mandato, esvaziou o conselho. Tentou reorganizá-lo em seu segundo mandato, mas o movimento pró-impeachment já caminhava sólido.
Confira a composição do novo Conselho:

Abílio Diniz, empresário
Ana Maria Machado, escritora
Ana Maria Malik, médica
Andréia Pinto, ambientalista
Anielle Guedes, empresária
Anna Chiesa, professora de Saúde Pública
Antonio Neto, sindicalista
Ariovaldo Rocha, empresário da indústria naval
Armando Castelar, professor da FGV
Armando Valle, empresário e sindicalista do setor patronal de eletrodomésticos
Benjamin Steinbruch, empresário e liderança da Fiesp
Bernardinho, técnico de vôlei
Chieko Aoki, empresária do setor hoteleiro
Cláudia Sender, presidenta da Latam
Claudio Lottemberg, presidente do Hospital Albert Einstein
Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Dieese
Dan Ioschpe, presidente do Sindpeças
Deusmar Queiroz, empresário do setor de farmácias
Dorothea Werneck, ex-ministra do governo Sarney e professora
Edson Bueno, presidente da Amil
Eduardo Eugênio, presidente da Firjan
Eduardo Navarro, executivo da Telefonica
Eliana Calmon, jurista
Elizabeth de Carvalhaes, executiva do setor madereiro
Fábio Coelho, vice-presidente da Google Brasil
Francisco Teixeira, historiador
Gaudêncio Torquato, jornalista e consultor do PSDB
George Teixeira, dirigente empresarial do setor de comércio
Germano Rigotto, ex-governador do Rio Grande do Sul e diretor da Abimaq
Gilberto Peralta, dirigente sindical patronal do setor de indústrias de base
Gisela Batista, engenheira do setor de energia eólica
Guilherme Afif Domingos, diretor do Sebrae e ex-ministro do governo Dilma
Helena Nader, presidenta da SBPC
Humberto Mota, dirigente da Associação Comercial do RJ
Jackson Schneider, presidente da Embraer
Jaime Lerner, arquiteto, ex-prefeito de Curitiba
Janete Vaz, bioquímica e empresária do setor de medicamentos
João Carlos Di Genio, empresário do setor de educação, fundador da rede Objetivo
João Carlos Marchezan, empresário do setor de máquinas agrícolas
Juruna, dirigente da Força Sindical
João Martins, presidente da Confederação Nacional da Agricultura
Joel Malucelli, empresário
Jorge Abrahão, dirigente do instituto Ethos
Jorge Gerdau, empresário
Jorge Paulo Lemann, empresário
José Calixto, dirigente da Nova Central
José Carlos Martins, presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil
José Júnior, do instituto AfroReggae
José Márcio Camargo, professor de economia na PUC-RJ
José Roberto Afonso, , pesquisador da Fundação Getúlio Vargas
Josue Gomes da Silva, empresário, filho do ex-vice-presidente José Alencar
Laércio Cosentino, empresário do setor de tecnologia da informação
Lia Hasenclever, economista
Lino de Macedo, psicólogo
Luiz Carlos Monteiro de Barros, consultor e ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações nos governos FHC
Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco
Luiz Moan, dirigente da Fiesp ligado ao setor automotivo
Luiz Helena Trajano, presidenta do Magazine Luiza
Luzia Laffite, psicóloga, especializada na primeira infância
Marcos de Marchi, presidente da Elekeiroz e dirigente patronal do setor químico
Marcos Molina, dirigente da Marfrig
Marcos Vinícius Coêlho, ex-presidente da OAB, defensor do fracassado movimento Cansei e advogado de Michel Temer
Marina Berenice Dias, advogada
Marie Anne Van Slyus, professora da USP na área de genética
Marina Cançado, psicóloga e coordenadora do projeto Travessia
Marina Grossi, presidenta do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
Milton Gonçalves, ator
Monica de Bolle, economista
Murilo de Aragão, advogado
Nizan Guanaes, publicitário
Paula Bellizia, dirigente da Microsoft do Brasil
Paulo Skaf, presidente da Fiesp
Pedro Passos, dirigente da Natura
Pedro Wongtschowski, presidente do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial)
Raí, ex-jogador de futebol
Reginaldo Arcuri, presidente do grupo de medicamentos FarmaBrasil
Renata Vilhena, presidenta da Associação Brasileira de Recursos Humanos
Renato Alves Valle, empresário, concessionário de rodovias
Ricardo Balesteri, presidente do Observatório do Uso Legítimo da Força ex-secretário nacional de Segurança do governo Lula
Ricardo Morishita, professor
Ricardo Patah, presidente da UGT
Roberto Justus, publicitário
Roberto Rodrigues, consultor político
Robson Andrade, presidente da CNI
Rose Bone, professora de engenharia industrial na Federal do Rio
Ruth Monteiro, dirigente da Força Sindical
Sérgio Gallindo, empresário do setor de telecomunicações
Solange Ribeiro, presidenta do grupo Neoenergia
Sônia Guimarães, professora de Física no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica)
Tânia Bacelar, professora da Federal de Pernambuco
Teresa Amaral, historiadora
Viviane Senna, fundadora do Instituto Ayrton Senna
Zeina Latif, economista da XP Investimentos

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