01/09/2016
Em meio à crise, pesquisa do Dieese comprova algumas máximas sindicais e alerta para sérios riscos de propostas do governo Temer
Escrito por: Isaías Dalle - CUT Brasil
Os números ruins confirmam algumas máximas sindicais.
Um dos gráficos mostra que o resultado das negociações é o pior desde 2003. “Isso é reflexo da volta às medidas neoliberais que predominaram até 2002”, analisa João Cayres, secretário-geral da CUT-SP. Ou seja, os números da pesquisa Dieese indicam que corte de investimentos e restrição fiscal sufocam a economia, comprovando que o Estado tem de desempenhar o papel de indutor do desenvolvimento.
Outro dado que chama a atenção é que o único setor de atividade em que todas as negociações salariais ficaram abaixo da inflação é o de processamento de dados, onde predomina a terceirização. “É de fato um setor altamente terceirizado”, concorda José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese. “Além disso, é um setor onde há muitas empresas pequenas”.
O movimento sindical tem insistido, ao longo dos últimos anos, que os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados têm salários, em média, 27% inferiores aos trabalhadores diretos, segundo estudos do próprio Dieese. A maioria do atual Congresso Nacional e o Temer querem a terceirização sem limites.
Negociado sobre legislado?
O balanço apresentado hoje também mostra que a negociação por categoria – a chamada convenção coletiva – obtém salários melhores que as negociações diretas com empresas – os chamados acordos coletivos.
Portanto, confirma-se a tese de que sindicatos fortes que representem todas as profissões que compõem determinado ramo de atividade conseguem resultados mais efetivos. A CUT planeja ampliar essa estratégia, promovendo campanhas unificadas entre diferentes categorias. “Isso serve de estímulo para que a CUT invista cada vez mais nessa ação”, avalia Cayres.
Outra interpretação possível para esses dados aponta para o perigo que a proposta do “negociado sobre o legislado”, defendida por Temer, representa para os trabalhadores e trabalhadoras. Segundo essa proposta, negociações diretas com os patrões teriam mais força do que a legislação trabalhista.
Números
O Dieese analisou 304 campanhas salariais. No primeiro semestre de 2016, apenas 24% obtiveram aumentos acima da inflação. 37% empataram com a inflação e 39% perderam para a inflação do período anterior.
Na média de todas as campanhas, o índice ficou 0,50% abaixo da inflação medida pelo INPC-IBGE.
Das convenções coletivas – campanhas por setor -, 25% delas tiveram aumento real, contra 15,4% dos acordos coletivos – por empresa. A imensa maioria das campanhas salariais analisadas pelo Dieese é fechada por convenção coletiva (291 contra 13).
Lava Jato
Cayres alerta que há um fator importante para a queda do emprego e o enfraquecimento das campanhas salariais que vem sendo ignorado pela mídia corporativa. “Mais do que o ajuste fiscal, que nem chegou a ser implementado, a forma como é conduzida a Operação Lava Jato está quebrando empreiteiras, paralisando o setor de construção, gás e petróleo e isso contamina toda a economia”.
(*) Matéria publicada originalmente no site da CUT Brasil
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