“O
juiz Sergio Moro (da operação Lava Jato) deveria trabalhar para evitar a
privatização e saber quem é que está ganhando com isso”, afirmou o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na noite de ontem (30), ao
criticar o processo de privatização que tomou conta do governo de Michel
Temer. Lula discursou em ato político em Crato, no Ceará, para encerrar
o décimo terceiro dia da caravana pelo Nordeste, que começou em
Salvador e passa por nove estados e 25 municípios até 5 de setembro.
“Vão vender a Petrobras e abrir o pré-sal, enquanto nós aprovamos a
lei de partilha do pré-sal, que destina 75% dos royalties para a
educação e isso também está sendo terminado. O Brasil virou o importador
de gasolina. Eles querem vender a Eletrobras; o país investiu R$ 400
bilhões e querem vender (a empresa) por R$ 20 bilhões”, afirmou.
O ex-presidente disse que depois do impeachment, estão destruindo o
país com a emenda constitucional do teto de gastos públicos por 20 anos,
entre outras medidas. “Eu tenho conversado com reitores de
universidades federais que dizem não ter dinheiro para fazer muitas
coisas. Pararam os investimentos nas escolas técnicas, não tem mais
dinheiro nem para cortar grama”.
A caravana de Lula chegou com atraso em Crato e Juazeiro do Norte –
as duas cidades são conurbadas. O início do ato estava marcado para as
18h, mas passava de 20h quando a caravana chegou nas duas cidades.
Juazeiro do Norte é a histórica cidade de Padre Cícero. Ao chegar à
região metropolitana do sertão do Cariri, Lula primeiro recebeu o título
de doutor honoris causa da Universidade Regional do Cariri.
Antigo
triângulo chamado de Crajubar – de Crato, Juazeiro e Barbalha –, a
Região Metropolitana do Cariri ganhou esse status em 2009 e passou a
agregar nove municípios, que somam 600 mil habitantes, sendo 270 mil em
Juazeiro do Norte. No sul do estado, a área tem divisas com Pernambuco,
Paraíba e Piauí, para onde a caravana parte nesta quinta 31. O trajeto
prevê uma passagem por território pernambucano com parada em Ouricuri, a
duas horas de Juazeiro, antes de seguir para Marcolândia, já no Piauí,
100 quilômetros mais adiante, e depois para Picos, polo estratégico para
a economia do estado, campeão nacional na produção de mel e por onde
passam cinco rodovias que levam para todos os pontos do país. A chegada a
Teresina é prevista para sexta (1º).
Depois, Lula foi homenageado com dois títulos de cidadão, dos
prefeitos de Crato e Salitre, outra cidade da região. “Ô, Lula, já está
na hora de você voltar de novo, ninguém aguenta mais comer arroz com
ovo”, disse, entre outros versos, o mestre de cerimônia do ato.
O ex-presidente está cansado, com a voz rouca. Pede para reduzirem as
luzes do palco, que ele mal consegue ver a multidão que se aglomera
para conhecê-lo. E recebe mais homenagens, entre elas, uma cesta com
produtos da agricultura familiar, objeto de uma das políticas públicas
mais importantes de seu governo, que chegou a investir R$ 30 bilhões por
ano no setor, para mudar a face da pobreza do Nordeste. O ex-presidente
recebeu também uma estátua de Padre Cícero da Federação dos
Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras do Estado do Ceará
(Fetraece).
“Não precisa de diploma, precisa de um coração puro para o país sair
dessa desconstrução que está ai. Temos que mudar esse governo corrupto,
são criminosos da pátria”, disse a trabalhadora, representante de um
sindicatos de comerciários da região, referindo-se ao governo de Michel
Temer, que tem atacado os direitos dos trabalhadores, conquistados
durante os governos do PT. Lula também esteve ao lado dos jovens e
chegou a erguer a bandeira do Levante Popular da Juventude.
Depois fez o discurso final, o sétimo de um dia que estava previsto
para ter apenas dois discursos. Passava de meia noite. “Eu queria
primeiro ter a compreensão de que demos um banho de canseira em vocês
hoje. Não foi justo o que fizemos, mas está acontecendo uma coisa
interessante, o povo vai para a beira da estrada e para o ônibus da
nossa caravana. Eu tinha dois discursos previstos para hoje e com este
aqui é o sétimo discurso do dia, minha garganta não suporta mais”, disse
Lula.
Ao fim do discurso, Lula voltou a criticar os ataques que tem
recebido da mídia, em especial da Rede Globo. “Nós temos 14 meses até a
eleição, eu não posso falar em eleição porque estão dizendo que essa
viagem é campanha. O que é campanha: eu viajar ou a Globo fazer tanta
distorção, eles passam 24 horas por dia falando mal de mim e da Dilma.
Isso é campanha”, afirmou.
“Eu não sei se vou ser candidato, mas se for, é para ganhar e cuidar
das pessoas mais humildes. Eu gosto do Brasil, mas o Nordeste ficou
sendo tratado como pobre por 200 anos. Aqui só se falava em seca, em
mortalidade infantil. Quando se imaginava que o filho de uma doméstica
poderia ser engenheiro?! Agora isso acontece e vence quem é melhor, quem
é mais inteligente e não quem tem mais dinheiro. Ninguém pode cair no
desespero, deixar de sonhar ou perder a esperança. E eu tenho vontade de
lutar como se fosse um menino de 18 anos. Nós não vamos permitir esse
retrocesso. Vou descansar, o Ceará quase me matou hoje, minha garganta
foi sugada pelo PT do Ceará mas se tiver um cearense que precise, pode
me chamar que eu estou aqui”, concluiu.
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